Os 5 pontos de Contato

Além da flexibilidade do braço direito e do ângulo reto do arco em relação às cordas, a pureza e a boa qualidade sonora dependem de três elementos: velocidade, pressão e o ponto correto em que o arco toca a corda colocando-a em vibração, intitulado ponto de contato. Os pontos de contato podem ser divididos em cinco e estão compreendidos no espaço em que o arco toca a corda, entre o cavalete e o espelho (figura acima).
Entendemos o Ponto de contato 1 como o ponto que tangencia a corda perto do cavalete e, no seu extremo oposto, o Ponto de contato 5, o mais perto do espelho do braço do violino. Tal divisão desse espaço entre o cavalete e o espelho foi primeiramente estabelecida pelo violinista Carl Flesch, em seu livro sobre produção de som no violino intitulado "Problems of Tone Production in Violin Playing", em 1931.
Segundo Flesch, a qualidade sonora é valorizada no discurso musical coloquial quase que exclusivamente de um ponto de vista estético. A terminologia emprega, portanto, expressões vindas de outros órgãos sensitivos. Falamos de um som brilhante ou opaco, claro ou escuro, cheio ou chocho, gordo ou magro, doce ou áspero. Visão, paladar, olfato, tato e emoções da vida em geral devem servir como um guia para interpretar a sensação, que na verdade é somente percebida pelo ouvido. Forte e fraco, puro, estridente, é basicamente tudo o que a nossa linguagem oferece para elucidar impressões auditivas. Dessa forma, para diferenciar opiniões quanto ao som, somos forçados, por assim dizer, a transpor nossas impressões acústicas para uma forma de terminologia utilizada para outros órgãos de percepção para que sejamos compreendidos. Assim sendo, a abordagem aqui utilizada será de uma nomenclatura mais coloquial.
Partindo do princípio de que a velocidade e a pressão do arco estarão constantes, e em se tratando de intensidade e timbre, o resultado sonoro do Ponto de contato 1 será de uma sonoridade mais estridente e “fina”, com maior intensidade do som devido à tensão da corda: quanto mais perto do cavalete, teremos maior tensão da corda. Paralelo a esse ponto, muitos compositores utilizam do recurso sonoro chamado "Sul Ponticello" (sobre o cavalete), uma técnica em que o arco toca praticamente em cima do cavalete, produzindo um som peculiar e estridente. No lado oposto ao Ponto de contato 1, no Ponto de contato 5, obtém-se um resultado sonoro com menor intensidade e com timbre “aveludado” e “redondo”. Alguns compositores utilizam nessa mesma região da corda mais uma sonoridade peculiar: o "Sul Tasto", "Sur la Touche" (sobre o espelho), onde o volume de som é reduzido, chegando ao pianíssimo com uma sonoridade aveludada e escura. No Ponto de contato 3, região central da corda com tensão mediana, temos um ponto de equilíbrio onde tocamos a maior parte dos golpes de arco como: martelé, spicatto, sautillé, dentre outros. Neste ponto de contato é onde também iniciamos o estudo de sonoridade da mais importante e nobre arte de conduzir o arco, o legatto: variando entre arcos longos e curtos, longas ligaduras, sempre pensando na conexão entre as notas. No Ponto de contato 2, que fica entre o ponto 1 e o ponto 3, conseguimos um resultado de grande projeção do som do instrumento, onde as dinâmicas giram em torno de fortissíssimo e forte. No Ponto de contato 4, região da corda onde já se tem a emissão de uma sonoridade mais aveludada, por ser menos tensa, as dinâmicas variam entre mezzo-piano e pianíssimo.
P.S:Todos os exemplos sonoros de cada ponto de contato podem ser ouvidos aqui neste site em "Áudios".
Por conseguinte, temos que manter também nossa atenção para o limite do instrumento quando o assunto é dinâmica. As indicações fornecidas pelo compositor da obra em questão devem ser consideradas e executadas, sendo cautelosa a escolha dos pontos de contato utilizados para respeitar a dinâmica e as articulações indicadas.
Tendo em vista o estudo para trabalharmos a intensidade do som, durante as pesquisas em obras da literatura violinística, juntamente com as experiências em masterclasses e aulas com professores de renome nacional e internacional, viu-se que nos pontos de contato 1, 2 e 3 o resultado sonoro, sem ultrapassar o limite do violino, realizam-se com mais propriedade as dinâmicas com maior volume (fortissíssimo, fortíssimo, forte e mezzo-forte) e nos pontos de contato 4 e 5 com menor volume sonoro (mezzo-piano, piano e pianíssimo).
Toda essa relação entre dinâmica, timbre e o uso adequado do ponto de contato foi discutida por Carl Flesch, Ivan Galamian e Simon Fischer, internacionalmente importantes para a literatura pedagógica do violino. Suas teorias e definições sobre pontos de contato e sonoridade estão analisadas mais a fundo na próxima página, em "Autores-violinistas".